Portal Fiocruz traz uma matéria interessante sobre estudo que aponta como foi trazido de volta, após sua erradicação no Brasil no final dos anos 50, o mosquito Aedes aegypti. Confira as informações a seguir. Boa leitura :)
Erradicado no final dos anos
1950, o mosquito Aedes aegypti pode ter sido reintroduzido no Brasil
não apenas uma, mas duas vezes; seguindo caminhos diferentes em cada uma delas.
A conclusão é de um estudo de pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz
(IOC/Fiocruz) e da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, publicado recentemente na revista científica PLOS
Neglected Tropical Diseases. Analisando a genética das populações do
mosquito da dengue no país, os cientistas observaram que os insetos encontrados
entre o nordeste e o sudeste parecem ser oriundos do Caribe. Já aqueles do
norte do Brasil seriam originários de outra parte das Américas, na região
compreendida entre a Venezuela e o sudeste dos Estados Unidos.
A pesquisa foi realizada a
partir da análise de trechos específicos do DNA de cerca de 400 insetos
capturados em 11 cidades brasileiras, das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e
Centro-Oeste, além de sua comparação com mais de 300 mosquitos de oito
localidades estrangeiras. “Verificamos que osAedes aegypti do Brasil estão
divididos em dois grandes grupos genéticos e, pela comparação com mosquitos de
outros países, identificamos as duas possíveis fontes de migração dos insetos
para o País”, diz o geneticista Fernando Monteiro, um dos autores do estudo e
pesquisador do Laboratório de Epidemiologia e Sistemática Molecular do IOC.
Colaborador e autor sênior do
estudo, Jeffrey Powell, da Universidade de Yale, ressalta a importância de
identificar as possíveis rotas de entrada doA. aegypti no Brasil, a partir
de outros países. “No caso da região norte brasileira, parece provável que o
movimento de pessoas e mercadorias por terra, em estradas ou ferrovias, levou à
reintrodução dos mosquitos. Já no sudeste, a maior chance é de que isso tenha
ocorrido por meio do comércio por barco ou avião. Assim, se houver novas
tentativas de erradicação, esses dados apontam caminhos para prevenir mais uma
reintrodução desses insetos”, declara o cientista.
Conhecer a origem e a
distribuição dos diferentes grupos de A. aegypti no Brasil é um dado
relevante para estratégias de combate ao inseto. Também autora da pesquisa, a
geneticista Renata Schama, do Laboratório de Biologia Computacional e Sistemas
do IOC, lembra que a resistência a inseticidas é uma característica genética
que pode se espalhar mais rapidamente dentro de um mesmo grupo de insetos. “Por
exemplo, se mosquitos do nordeste desenvolverem resistência para um determinado
produto, podemos imaginar que esta característica vai se disseminar logo até o
sudeste, porque os Aedes aegypti destas duas regiões fazem parte de
um grande grupo geneticamente próximo, dentro do qual provavelmente existe
migração de mosquitos”, explica.
Fronteiras suscetíveis
Além de caracterizar as
populações de A. aegypti do País, o estudo reforçou a hipótese de que
a erradicação promovida no passado foi realmente eficiente. Segundo Fernando, a
possibilidade de uma eliminação incompleta, seguida pela expansão a partir de
um pequeno número de insetos sobreviventes em refúgios, parece pouco provável a
partir das características genéticas observadas nos insetos estudados. “Quando
se realiza uma campanha de erradicação, muitos mosquitos são mortos e,
consequentemente, a variabilidade genética das populações se reduz drasticamente.
No Brasil, observamos um alto grau de variabilidade genética dentro de cada
grupo de insetos, semelhante ao de países que nunca passaram por esse tipo de
ação de controle”, afirma, acrescentando que a própria distribuição dos grupos
de A. aegypti no Brasil também aponta para a reintrodução a partir de
outros países. “Se os mosquitos tivessem sobrevivido em pequena quantidade em
diferentes refúgios e depois se espalhado novamente, deveríamos encontrar um
número maior de grupos genéticos – pobres em variabilidade – e não apenas duas
grandes populações de insetos no País”, diz.
Iniciado em 1947, o programa
para erradicar o Aedes aegypti no país foi declarado um sucesso pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1958. No entanto, nos anos 1970, os insetos
voltaram a ser capturados em território brasileiro. Os especialistas acreditam
que a reintrodução dos mosquitos ocorreu devido à diminuição das atividades de
controle, que eram baseadas principalmente no uso de inseticidas. Na época, o
foco do combate ao A. aegypti visava evitar os casos urbanos de febre
amarela, que eram numerosos até a década de 1940. Embora a campanha tenha sido
eficaz neste sentido, quando o vírus da dengue chegou ao Brasil, em 1982,
encontrou um ambiente propício para a sua disseminação. Com os mosquitos
transmissores espalhados por todo o território nacional, as epidemias da doença
se tornaram frequentes.
Aedes: fácil proliferação
Segundo a OMS, cerca de 2,5
bilhões de pessoas – aproximadamente 40% da população do planeta – vivem hoje
em áreas infestadas pelo Aedes, com risco de transmissão da dengue.
Especialista em genética evolutiva, Powell avalia que, como espécie, o A.
aegypti é altamente capaz de se espalhar e sobreviver. “Populações com
alta variabilidade genética podem se adaptar a muitos tipos de habitat, se
alimentar de diversas formas, ser mais resistentes à seca ou a temperaturas
extremas. Quanto mais variável geneticamente, mais difícil é controlar ou
eliminar uma espécie. A resistência a inseticidas evolui mais rapidamente em
populações com mais variação genética, assim como a capacidade de adaptação a
mudanças climáticas”, afirma o cientista.
Atualmente, a disseminação da
resistência aos inseticidas é um dos fatores que dificultam o combate ao
mosquito e, de acordo com Renata, essa situação torna ainda mais importante o
engajamento da população para evitar a proliferação do inseto. “O Aedes
aegypti se espalhou pelo mundo e, em todos os países, a resistência aos
inseticidas aumenta rapidamente. Quando um novo produto começa a ser utilizado,
em seguida os mosquitos se tornam capazes de tolerá-lo. Por isso, o controle da
dengue depende, hoje, basicamente da conscientização da população para eliminar
os depósitos de água parada, que podem se tornar focos de reprodução do inseto”,
destaca.
Além de transmitir os vírus da
dengue e da febre amarela, o Aedes aegypti também é vetor do vírus
causador da febre chikungunya. Comum na Ásia, a doença chegou ao Caribe no
final do ano passado e já provoca epidemias na Bahia e no Amapá, com mais de
1.300 casos registrados no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.
Fonte: Por: Maíra Menezes
(IOC/Fiocruz)
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