Gerente do projeto em Farmanguinhos, a
química industrial da Coordenação de Desenvolvimento Tecnológico da unidade,
Maristela Rezende, diz que o tratamento atual disponível está longe de ser
satisfatório. “Apesar de ser considerado de primeira escolha em todo o mundo, o
antimoniato de N-metilglucamina, como todos os antimoniais pentavalentes, é
pouco absorvido pelo trato digestivo e a retenção da substância é responsável
por efeitos tóxicos. Em outras palavras, ele não é bem tolerado e produz muitos
efeitos colaterais, impactando negativamente na adesão ao tratamento”, observa.
Para contornar esse problema,
Farmanguinhos trabalha para oferecer uma alternativa terapêutica. O estudo para
o novo gel de Paromomicina vem sendo realizado em parceria com o Centro de
Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas), Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG) e DNDi (sigla em inglês da Iniciativa para Doenças
Negligenciadas) e com o Programa de Desenvolvimento Tecnológico de Insumos para
a Saúde (PDTIS/Fiocruz).
A leishmaniose tegumentar tem duas
formas de apresentação clínica: cutânea e mucosa. De acordo com a Organização
Mundial da Saúde (OMS), é uma das seis mais importantes patologias infecciosas,
pelo seu alto coeficiente de detecção e capacidade de produzir deformidades.
Constitui um problema de saúde pública em 88 países, distribuído em quatro
continentes (América, Europa, África e Ásia), com registro anual de 1
milhão a 1,5 milhão de casos.
No Brasil, a leishmaniose cutânea é uma
das afecções dermatológicas que merece mais atenção, com ampla distribuição em
todas as regiões. Dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(Sinan) mostram que em 2009 foram registrados 21.824 casos deste tipo da doença
em todo o país. Uma das preocupações é com o risco de surgimento posterior da
forma mucosa, que pode ser desfigurante. Além disso, existe o impacto
psicológico, que produz reflexos no campo social e econômico, uma vez que, na
maioria dos casos, pode ser considerada uma doença ocupacional.
Nesse sentido, em janeiro último, foi
criado o grupo que acompanhará todo o processo de desenvolvimento do gel anti-
leishmaniose de Farmanguinhos até a produção em escala industrial. O grupo é
formado por Wim Degrave e Cássia Pereira (PDTIS), Ana Rabello (CPqRR), Fabiana
P. Alves (DNDi) além de Tereza Santos, Maristela Rezende, André Daher e Lilian
Petroni (Farmanguinhos). A gerente do projeto explica que o objetivo é
abastecer o Ministério da Saúde com uma nova especialidade farmacêutica,
promovendo o acesso da população brasileira a novas alternativas terapêuticas.
“Com as diferentes expertises trabalhando em conjunto, o medicamento tão
especial para a saúde pública será entregue ao Ministério da Saúde no prazo
previsto, ou seja, em quatro anos”, frisa Maristela Rezende.
A leishmaniose é uma doença infecciosa
causada por protozoários do gênero Leishmania, que acomete pele e mucosas. Ela
vem ocorrendo de forma endêmico-epidêmica apresentando diferentes padrões de
transmissão relacionados não somente ao avanço do homem em áreas silvestres, em
virtude da expansão agrícola. A doença ocorre em áreas de colonização antiga,
nas quais se discute a possibilidade de adaptação dos vetores e parasitas a
ambientes modificados e reservatórios.
Fonte: Agência Fiocruz de notícias, por Alexandre Matos
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